Quarto do Jayden

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-Sim, usas bons óculos - disse com a voz arrastada sem saber o que estava a dizer com os meus olhos a fecharem-se por eles próprios. Não evitei que aquilo acontecesse, apenas me deixei levar pelo sono até ficar completamente adormecido. Sabia que quando acordasse ia estar melhor, era o que acontecia sempre. Queria ficar bom para quando aminha mãe chegasse, ou ela ia armar um escandalo.

Revirei os olhos com que ele disse mas nem me dei ao trabalho de reclamar, ele já estava mais para lá do que para cá. Esperei que adormecesse, continuando a passar-lhe a toalha pela cara durante mais um bocadinho e antes que voltasse a acordar, pousei a taça e a toalha na mesinha de cabeceira, ficando a vê-lo dormir. Ficava com um ar tão adorável e de bebé que até irritava. Credo.

Gemi baixinho quando me virei para uma zona que estava mais fria e estremeci, agarrando-me a uma coisa mais quentinha. Apenas ao sentir-me despertar é que percebi que era o corpo de Ivy, mesmo assim não me mexi ficando de olhos fechados, com o meu corpo encostado ao dela.

Enquanto Jayden dormia fui até à casa de banho, despejando a água que estava dentro da taça e colocando a toalha molhada para lavar. Voltei para o quarto, para junto dele, e acabei por me deitar a seu lado, apenar porque já me sentia ligeiramente cansada. Mas não me podia esquecer do tempo, ainda tinha de voltar ao trabalho. Deitei a cabeça na pontinha da sua almofada e de um momento para o outro, senti-o abraçar-se a mim. Levantei uma sobrancelha, sem saber o que fazer, mas não me afastei, deixei que ele ficasse agarrado a mim, ficando a fazer-lhe festinhas no cabelo com as pontinhas dos dedos.

Acabei por abrir os olhos de novo quando me lembrei da minha mãe. Ela não podia ver Ivy no meu quarto ou dava-lhe um ataque. Ela nem amigos meus podia ver no meu quarto. Segundo o meu pai, visto que eu só a tinha conhecido assim, ela tinha ficado paranóica com a minha doença e tudo o que estava em casa tinha que ser desinfectado para não ficar pior. Ela tentava prender-me em casa, mas eu gostava de me divertir por isso já nem lhe perguntava se podia sair, simplesmente ia. Estiquei-me para ver as horas e deixei-me estar mais descansado por perceber que ainda era cedo. Sentia-me um bocadinho melhor, mas tinha que continuar, só assim ficava de novo a 99%.
-Estás a gostar de estar a apanhar uma seca? - perguntei com um meio sorriso.

Eu estava a tentar manter-me acordada, mas aquela cama era tão mais confortável e quentinha, que estava a ficar difícil. Deixei-me estar de olhos fechados mesmo depois de ouvir a voz de Jayden e ri-me baixinho, esfregando o nariz não sei onde.
- Eu não estou a apanhar seca.- encolhi os ombros.- se não quisesse estar aqui não tinha vindo.

Sorri ligeiramente quando percebi que estava quase a dormir e aproximei-me mais dela encostando-me de novo a ela, mas desta vez puxei-a para que encostasse a cabeça ao meu peito, fazendo-me abraça-la. - Podes dormir. - murmurei, visto que eu ia fazer o mesmo. Ainda tinhamos duas horas até a minha mãe chegar.

Suspirei prazerosamente quando me senti ficar mais quentinha e deitei a cabeça no seu peito, aninhando-me contra o seu corpo.
- Eu não posso.- murmurei, mas a verdade é que me estava a meter confortável, pronta para dormir.- ainda tenho de ir trabalhar.- disse, enquanto me abraçava a ele.

Ri-me baixinho por se estar a abraçar a mim ao mesmo tempo que dizia que não podia e encolhi os ombros, dando-lhe festinhas nos cabelos - não te preocupes, eu arranjo-te uma justificação - disse-lhe beijando-lhe a testa. Fechei os olhos com a cabeça encostada à dela e deixei-me adormecer.

Oh meu deus, festinhas no cabelo, o meu pai costumava fazer isso...sorri ao lembrar-me e puxei as mantas mais para cima, fechando os olhos com um sorrisinho. Eu já devia estar mesmo adormecida para estar tão abraçada a ele e a aproveitar as festinhas. Tinham de me dar um desconto. Assenti com a cabeça, apesar de não saber o que ele dizia e soltei um suspirinho, adormecendo.

Voltei a despertar com o meu telemóvel e quando percebi que ia ter que afastar-me de Ivy suspirei. Tentando agarra-lo sem a acordar. Mordi o lábio carregando na tecla verde e atendi.
-Hoje vamos sair? - perguntou Stela sem sequer dizer um Olá. Ela era mesmo despistada.
-Não posso hoje - disse ainda com voz de sono.
-Bem, a noite de ontem foi mesmo agressiva. - ri-me baixinho e assenti apesar de ela não ver.
-Foi um bocadinho.

Não me lembrava da última vez que tinha dormido tão bem e tão quentinha. Josh não me dava descanço, era todas as noites e a toda a hora. Tudo bem que uma noite de sexo era bom para dormir, mas mesmo assim, estava mesmo bem agora. Ouvi a voz de Jayden muito ao fundo e só percebi que não era um sonho quando comecei a despertar aos poucos. Cheguei-me mais para ele, visto que ele estava meio afastado e escondi a minha cara no seu peito, roçando lá o nariz. Ele estava ao telefone, apesar do sono que sentia conseguia perceber isso. Deixei-me estar aninhada contra o seu corpo, fazendo-lhe festinhas no peito enquanto esperava que desligasse.

Quando Ivy começou a despertar eu passei as pontas dos dedos pelo seu cabelo sorrindo-lhe levemente. - Vou ter que desligar, até amanhã - nem esperei para que ela desligasse, desligando eu. - Dormiste bem? - perguntei mandando o telemóvel para a mesa de cabeceira.

Olhei para os meus dedos que deslizavam pelo seu peito e o meu olhar parou na cicatriz que ele tinha lá. Não tinha reparado nela antes. Era no sítio...da operação, o queria dizer que ali..abanei a cabeça, sentindo logo o meu coração apertar-se e cerrei o maxilar, tinha de controlar-me agora. Mordi a parte de dentro da bochecha com força, tentando afastar todo o tipo de pensamentos que me passavam pela cabeça e dei por mim a passar as pontinhas dos dedos por lá, com cuidado. Despertei assim que ouvi a sua voz e subi o olhar para ele, assentindo.
-O que é que te aconteceu? - perguntei como se não soubesse, ainda a passar os dedos pela cicatriz.

Fechei os olhos enquanto ela não respondia e passei os dedos pelos mesmos. Ainda bem que estava melhor, ou a minha mãe ia ter os seus ataques. Senti o meu corpo estremecer quando os dedos de Ivy passavam pela zona da minha cicatriz. Não precisava de olhar para saber, ia sempre ser a zona mais sensível do meu corpo, num mau sentido. Abri os olhos para a olhar e engoli em seco com a sua pergunta abanando a cabeça. - Eu tive problemas quando era mais pequeno - claro, tive. Como se ainda não tivesse. - Não gosto muito de falar sobre isso. - mordi o lábio inferior.

Pois, tiveste. E que engraçado, sabes quem é que morreu para te salvar? Sabes quem é que perdeu a vida para tu poderes continuar com a tua? O meu pai. Senti-me ferver por dentro só de pensar, mas por outro lado, não parei de mexer lá. Eu estava irritada, e ficava ainda mais só de pensar que ele estava bem porque o meu pai tinha morrido, mas ao mesmo tempo...nada, ao mesmo tempo nada. Levantei o olhar para ele, vendo-o ficar meio incomodado e dirigi-lhe um sorriso, baixando os meus lábios até os roçar na zona da sua cicatriz, depositando lá um beijinho.
- Então não vamos falar mais sobre isso.- encolhi os ombros, subindo com os lábios pelo seu pescoço até chegar à sua boca.- como estás? 

Passei as pontas dos dedos quando vi as suas bochechas ficarem mais vermelhas que o normal e juntei as sobrancelhas afastando um pouco as mantas, podia ser o calor. Sorri interiormente por ela não insistir e não consegui evitar um sorriso ao sentir o seu beijinho na minha cicatriz, passando as mãos pelas suas costas. - Estou bem - disse beijando os seus lábios com um sorriso - obrigado por cuidares de mim. - disse deitando a cabeça na almofada.

Senti a minha pele arrepiar-se debaixo do seu toque à medida que os seus dedos vagueavam pelas minhas costas e sorri contra os seus lábios, dando-lhe mais um beijinho antes de falar. 
- Não tens de agradecer patrãozinho.- rocei o meu nariz no seu.- o que interessa é que estás bem.- sorri, voltando a deitar a minha cabeça no seu peito e fiquei a deslizar os meus dedos pelo seu braço.- corro o perigo de ser despedida? - perguntei baixinho, aninhando-me mais contra o seu corpo.

Sorri beijando-lhe a testa e encolhi os ombros - eu disse que só precisava de dormir para passar - sorri olhando para os seus olhos por uns momentos - não, mas devias ir - disse baixinho - a minha mãe está quase a chegar e ela é um bocado maniaca comigo - sorri um bocadinho passando os dedos pela sua bochecha.

- E eu a pensar que ias dizer que estavas bom e que era tudo graças à tua enfermeira sexy.- semicerrei os olhos, com uma expressão divertida e fiquei a olhá-lo enquanto ele falava, sentindo o meu coração disparar mal o ouvi falar na mãe. O meu maxilar cerrou-se, como sempre, e eu obriguei-me a encostar a minha bochecha mais à sua mão, tentando distraír-me com outra coisa.- é uma mãe galinha? - perguntei com o melhor sorriso que consegui disfarçar e estiquei-me até conseguir chegar aos seus lábios.- quando é que te volto a ver? Sem ser no gabinete do teu pai a fingir que não me conheces, mas que apesar disso não me consegues resistir?

Ri-me baixinho encolhendo os ombros -talvez tenha sido - encostei os meus lábios à sua testa sem a beijar. Fiz uma careta quando perguntou se era uma mãe galinha. - Para além de maluca, sim é bastante - passei os dedos  peo seu braço e beijei-a assim que se esticou encolhendo os ombros - quando tu quiseres ver-me.

- Talvez? - voltei a semicerrar os olhos.- tu adoraste ser tratado por uma enfermeira como eu, foi isso que te pos bom, nem precisas de dizer, eu sei.- disse com o meu ar convencido de sempre e fingi uma gargalhada quando falou na sua mãe.- é mãe, é normal.- credo, devia matar-me depois disto. Sorri contra os seus lábios, passando as pontinhas dos dedos pela sua bochecha e mordisquei-lhe o inferior, puxando-o ligeiramente.- podias ir ter comigo logo.- encolhi os ombros.- onde quisesses, mas só se te sentires bem.- olhei-o.- e se quisesses, claro.- e lá estava eu a fazer-me de pessoa boazinha e compreensiva. Um óscar, no mínimo.

-És muito convencida, já te tinha dito não já? - perguntei e sorri com um encolher de ombros quando falou da minha mãe - só às vezes. - sentei-me na cama encostando-me mais a ela quando me puxou e assentir - está bem, se estiver melhor eu vou ter contigo. - passei os lábios pelo seu maxilar.

- Já.- assenti para responder à sua pergunta.- mas eu continuo a preferir que me chames de realista.- encolhi os ombros com um sorrisinho e sentei-me na cama quando ele também o fez, encostando-me a ele.- estavas demasiado bêbado, ou conseguiste decorar o caminho até minha casa? - perguntei, fechando os olhos.- quer dizer, demasiado bêbado ou demasiado ansioso por me ver despida, o que sinceramente, eu percebo.