Iraque

Levantei a cabeça para a general e só não abri a boca para lhe falar porque em parte ela tinha razão, precisávamos de nos mexer, mas ao mesmo tempo eu precisava mesmo de água. Tanto stress dava cabo de mim. Passei as mãos pelo meu cabelo enquanto me arrastava ao lado de Brad e agarrei na garrafa quando ele a tirou da mala - obrigado - murmurei sentando-me atrás de um muro meio desfeito.

Se eu já estava irritado por tudo o que se ia passar, fiquei ainda pior por cauda de Karen, ela conseguia mesmo irritar-me. E eu não era maricas! Revirei os olhos ao lembrar-me e só despertei quando ouvi a voz de Daniel. Encolhi os ombros, seguindo-o e sentei-me ao seu lado.- estás melhor? - perguntei, olhando-o, mas assim que ouvi um barulho, coloquei-me logo de joelhos e com a minha arma apontada para a frente, por cima do muro.

Eu não sabia bem o que se estava a passar, mas devia ser tudo derivado do stress que andava a haver. Quando havia longas pausas de paz, havia logo de seguida longos dias de guerra. Encostei a cabeça ao muro assentindo com a cabeça mas logo me coloquei também de joelhos espreitando para ver o que quer que fosse que Brad tinha ouvido ou visto.
-O que é que se passa? - perguntei baixinho lembrando-me de Ben, pelo menos agora estava perto dele, só esperava que estivesse bem.

Olhei várias vezes em volta, assegurando-me de que tinha sido apenas um barulgo sem importância, e mesmo depois de me aperceber que sim, continuei na mesma posição. A partir de agora, tinha de estar atento, não podia deixar que nada me destruísse. Olhei pelo canto do olho para Daniel e abanei a cabeça.
- Ouvi um barulho.- murmurei.- mas não é nada.- descansei-o. Pelo menos por enquanto.

Dei por mim a olha-lo, ele não estava tão descontraído como antes, é claro que nunca se ficava descontraído nestas situações, mas ele estava mais tenso e diferente. Eu tinha quase a certeza que era por minha causa. Por minha causa e por causa de Ben. Respirei fundo agarrando na minha arma e coloquei-me em posição.
-Tens que parar - disse-lhe - pára de me tentar proteger. Eu consigo sabes? Tu viste - abanei a cabeça - eu consigo.

Olhei em volta mais uma vez, à espera que eles aparecessem vindos do nada e passei uma mão pela testa suada. Pela primeira vez estava a pensar como um menino assustado, só queria voltar para a minha tenda. Fiz uma careta ao ouvir Daniel dizer que eu tinha que parar e olhei-o, ouvindo o resto da sua explicação. Suspirei quando terminou e abanei a cabeça.
- Vais obrigar-me a dizer aquilo outra vez? - murmurei.- eu sei que consegues, mas sou eu que não consigo parar, é mais forte do que eu.

Abanei a cabeça quando me perguntou se eu o ia obrigar a dizer aquilo de novo e tive que me aguentar para não corar, eu era homem, eu não corava, eu era medricas mas não corava.
-Não estás tão ágil como antes - disse-lhe - vais acabar morto se estiveres sempre com preocupações - contive um suspiro e pousei uma mão no seu ombro - eu vou para o outro lado e tu ficas aqui. - olhei-o antes que dissesse mais alguma coisa - eu fico bem.

Já não dava para esconder não era? Aliás, era idiota se tentasse sequer esconder o que sentia por ele, eu não sabia o que era, mas sabia que sentia. Por isso, mais valia lidar com as coisas com normalidade, e o meu normal era protegê-lo, custasse o que custasse.
- Eu estou bem Daniel.- disse assim que insinuou que eu estava menos ágil e assim que o ouvi dizer que ia para o outro lado, sozinho, eu abanei a cabeça, a suar cada vez mais.- não.- disse rapidamente.- não podes ir.- voltei a abanar a cabeça.- se não queres que eu fique ainda mais preocupado, não podes ir.

Arregalei ligeiramente os olhos quando ele ficou pior do que já estava e aproximei-me um bocadinho, o meu primeiro instinto era tocar-lhe mas não o fiz. Agarrei na minha arma espreitando por cima do muro e assenti - eu fico, mas tem calma - disse voltando a olha-lo - não te quero outra vez de cama - não tinha sido assim tão mau passar tempo com ele. Mordi-me todo. Mas era mau, ele não se podia magoar.

Quando o ouvi dizer que ficava, foi como se me tirassem um enorme peso de cima dos ombros. Respirei fundo, esticando-me de forma instintiva para lhe beijar a bochecha, mas assim que me apercebi do que tinha feito, endireitei-me, voltando a apontar a minha arma.
- Obrigada.- murmurei apenas, de olhos postos em tudo o que nos rodeava.- e isso não vai acontecer.- disse por fim, respondendo ao que ele me disse de não querer que eu ficasse na cama de novo, e eu a pensar que ele tinha gostado. Nada de distracções Bradley, pára de pensar nele

Abri ainda mais os olhos virando-me roboticamente para o muro e assenti com a cabeça. Estávamos prestes a ser atacados e assim? íamos morrer os dois. Passei a parte de trás da mão pela testa e engoli em seco quando ouvi uma estrondo, estremecendo ligeiramente por não estar à espera. Era uma bomba, eu já conhecia o barulho, mas o pior não tinha sido o estrondo da bomba, tinha sido os gritos. Alguém se tinha magoado.
-Eles vieram com força - murmurei com a minha respiração meio alterada agarrando na minha arma de novo.

Fiquei a pensar no que tinha acabado de fazer, eu estava a ficar cada vez mais estranho. Abanei a cabeça com um suspiro com os os meus pensamentos, mas não tiva tempo de pesar fosse o que fosse quando o barulho de uma bomba se fez ouvir. Engoli em seco, encostando-me ao muro, tentando esconder-me e apertei a arma na minha mão.
- E isto ainda é só o começo.- murmurei com um suspiro.- tem cuidado.- pedi, colocando-me em posição e mal vi um sombra, preparei-me para disparar.

Eu tentava, eu só via inimigos praticamente a passarem-me à frente por causa da mira, e eu tentava mesmo apertar o gatilho, mas eu paralisava. Ainda eu dizia que conseguia sozinho e pedia para ele não se preocupar. Como é que eu queria que ele não se preocupasse se eu nem apertar um botão conseguia. Encostei a cabeça ao muro com o coração a mil e olhei para o lado arregalando os olhos - Brad - chamei baixinho apertando-lhe a camisola - temos que sair daqui - murmurei - rápido - gritei vendo os números a passarem tão rápido quanto eu o arrastei dali para fora, deixando-me cair para ao seu lado.

Não pensei duas vezes em premir o gatilho, eu continuava ágil, mais preocupado, mas continuava com bons reflexos e a mesma agilidade. Passei uma mão pela cara, depois de ver o corpo cair no chão e virei a cara na direcção de Daniel, assim que senti a sua mão na minha camisola. Juntei as sobrancelhas, sem perceber, mas bastou pensar um bocadinho para chegar lá. Levantei-me rapidamente, correndo ao seu lado, sempre a apertar a minha arma e quando o estrondo se fez ouvir, tanto eu como Daniel caímos redondos no chão.
- Estás bem? - perguntei assim que o barulho acabou, com o zumbido habitual a marterizar-me nos ouvidos.

Quando embati no chão parecia que o meu corpo tinha explodido entretanto, mas não, eu continuava inteiro, pelo menos era o que parecia. Ao abrir os olhos percebi que alguma coisa não estava bem. Sentei-me no chão olhando por cima do ombro de Brad vendo que estávamos tapados por um monte de pedras caídas e por pouco tempo não íamos ser descobertos. O zumbido nos meus ouvidos e na minha cabeça estavam a perturbar-me, mas havia outra coisa que eu não conseguia perceber, apenas quando a dor começou é que eu consegui chegar com a mão ao meu peito vendo o sangue escorrer pela mesma.

Só quando me tentei levantar á que me apercebi de que estávamos cobertos de pedras. Fiz uma careta, afastando algumas e finalmente sentei-me, passando as mãos pela cara, limpando algum pó da mesma.
- Estás bem? - voltei a perguntar, visto que ele não tinha respondido e assim que desviei o olhar para ele, o meu coração para ele.- estás a sangrar.- disse, já ofegante, aproximando-me dele tão rápido que até fiquei meio tonto.- como é que isto aconteceu? - perguntei, rasgando um bocado um bocado da minha camisola, fazendo depois pressão com a mesma no sítio onde ele tinha sido alvejado. Peguei com uma das maus no meu walkie talkie e engoli em seco.- temos um homem ferido, repito, temos um homem ferido.

As nossas fardas estavam meias queimadas, a bomba tinha sido muito perto de nós, mesmo assim nós tínhamos tido sorte. Apesar de eu estar com uma coisa nada boa no peito, mesmo assim, eu não me sentia a morrer, sentia uma pressão e uma dor que fazia mais doloroso o acto de respirar, mas não era nada demais. - Eu estou bem - murmurei com a voz rouca, eu estava com a mínima impressão mais facilmente desmaiava a ver tanto sangue do que com a cor. Gemi fechando os olhos quando senti uma pressão maior no meu peito e agarrei-me ao braço de Brad para que não fizesse tanta força.

Baixei o olhar assim que senti Daniel agarrar-me no braço e percebi que estava a exercer demasiada força sobre a sua ferida ainda aberta.
- Desculpa.- murmurei, tentando concentrar-me para não me deixar levar pelo pânico. Eu tinha prometido que o protegia, como é que isto tinha acontecido.- fica comigo, está bem? - pedi baixinho, passando as pontinhas dos dedos pela sua cara.- não feches os olhos.- mordi-me todo para não começar a chorar que nem uma criança e olhei em volta, cerrando o maxilar por não aparecer ajuda.
- Não ouviram o que eu disse? - gritei para o walkie talkie.- nós precisamos de ajuda, ele foi atingido.
- Tem calma Bradley.- ouvi a voz de Karen do outro lado, acho que nem ela estava à espera que eu reagisse daquela forma.- a ajuda já está a caminho.- assenti, passando a mão livre pela cara e voltei a olhar para Daniel.
- Eles já estão a chegar, eles vão ajudar-te.- murmurei.- concentra-te em mim.

Encostei a cabeça ao corpo de Brad e olhei-o, ele estava mais em pânico do que eu. - tem calma,- pedi com a voz rouca abrindo os olhos e olhando-o. - Não é tão mau quanto parece - murmurei ofegante. Concentrei-me na minha respiração que era a única coisa que me custava a fazer a fechei de novo os olhos, mas tive os voltar a abrir ou ele ainda se passava. Estremeci quando o ouvi gritar mas percebi que era com Karen, puxei-o pela camisola aos tremeliques, fechando os olhos.

Pousei a sua cabeça nas minhas pernas assim que ele a encostou ao meu corpo e fiquei a passar as pontinhas dos dedos pelo seu cabelo, enquanto me tentava magoar. Eu tentava de tudo para que ele não se magoasse, eu matava por ele e no fim de contas, não tinha servido de nada. Suspirei quando ele me tentou acalmar e abanei a cabeça, tocando-lhe com um dedo nos lábios.
- Não te canses.- murmurei baixinho, continuando a deslizar os meus dedos pelo seu cabelo. A ferida não parecia muito grave, mas se ele piorasse, se por alguma razão ele ficasse pior, eu nunca me iria perdoar.- Daniel? - chamei assim que o vi fechar os olhos.- olha para mim, por favor.

Abri os olhos quando ele me pediu e percebi que mal respirava. Expirei gemendo logo de seguida por causa da dor e agarrei de novo no braço de Brad - tira - pedi referindo-me à bala - está... A fazer pressão - tentei dizer tudo de uma vez. Por causa da pressão no meu peito tinha que fazer o dobro do esforço para respirar e já não tinha muita força por causa das dores.

- Isso.- incentivei assim que ele abriu os olhos, tal como eu tinha pedido e mal ouvi o seu gemido, olhei alertado para a zona da sua ferida, ouvindo-o depois pedir-me que lhe tirasse a bala. Arregalei os olhos, olhando para ele e abanei a cabeça, começando a tremer por todos os lados.- eu não posso..eu..- respirei fundo.- se eu fizer qualquer coisa sou capaz de piorar tudo.- murmurei.- aguenta, por favor, eles devem estar quase a chegar. - pedi, olhando em volta, com o tempo que estavam a demorar, ia matá-los quando me aparecessem à frente.

Fiz força no braço dele puxando-o mais para mim e olhei para os olhos de Brad - eu nao consigo respirar - disse entre dentes meio ofegante. Estava tudo meio enevoado na minha cabeça - por favor - pedi-lhe baixinho.

Acho que pela primeira vez desde que eu estava ali, estava completamente em pânico, eu não sabia o que fazer. Assim que ele me voltou a pedir que lhe tirasse a bala, o meu olhar descaiu de novo sobre a sua ferida. Tinha o coração a bater tão depressa que temia que me fosse saltar do peito. Eu nunca tinha feito uma coisa parecida, normalmente os paramédicos chegavam a tempo, mas hoje, tudo parecia estar a demorar eternidades. Passei a mão pela minha testa, respirando fundo e sem pensar duas vezes, rasguei-lhe a camisola. Eu estava completamente à nora, não fazia ideia do que ia fazer, mas não podia deixar que ele morresse, eu não ia conseguir sem ele. Olhei para a sua ferida, examinando-a. Não era muito profunda, eu tinha de conseguir.
- Desculpa.- pedi baixinho, por saber que ia doer, e antes que me arrependesse, enfiei o meu dedo indicador e o polegar pela sua ferida dentro.

Ele estava a demorar, ia pedir-lhe para o fazer mais uma vez., se ele se negasse eu próprio tentava. Preferia aguentar a dor do que sentir o que sentia agora. Estava literalmente a sufocar. - Brad..- parei assim que o ouvi pedir-me desculpa. Entreabri os lábios quando senti a dor nos primeiros segundos, mas nos restantes já se tornou incontrolável. Agarrei-me maid uma vez ao braço dele e não consegui não gritar ate sentir as lágrimas nos meus
olhos, tentando manter-me o mais parado possível para aquilo ser rápido.