Iraque

-Estou a aproveitar - disse com um revirar de olhos mal humorado. Suspirei baixinho quando se queixou da cabeça e continuei a passar o pano pela sua cabeça - já vai passar, tenta dormir - murmurei de novo acabando por começar a fazer-lhe festinhas no cabelo, podia ser que assim ele adormecesse mais facilmente, isso a mim acontecia.

Abri os olhos, a tempo de o ver revirar-me os olhos de novo e fiz-lhe cara de mau, voltando a fechá-los depois. Acho que estava demasiado quente porque cada vez que ele me passava o pano pela testa, eu tremia por todos os lados. Suspirei, gemendo baixinho e só me senti acalmar mal as suas mãos vieram parar ao meu cabelo. Sorri agradado e agarrei-me às mantas, desta vez com frio, pouco demorando até adormecer.

Sentia sempre um aperto no peito mal ele tremia, eu estava cheio de medo e a verdade era essa, não era de me matarem, era que ele piorasse e chegasse a morrer. Ele era tão cabeça dura. Suspirei quando adormeceu e fiquei a passar o pano pela sua face e pelo seu peito, começando com aqueles pensamentos absurdos, eu tinha que parar com isto. Isto não estava a correr nada bem.

Sentia o meu corpo tão pesado que parecia que não tinha dormido nada. Esta coisa de ser alvejado, tinha muito que se lhe diga. Abri os olhos aos poucos, enquanto resmungava baixinho e tossiquei, o que me fez encolher de forma instintiva por causa da minha ferida. Deixei o meu corpo cair de novo na cama e pisquei os olhos enquanto olhava em volta e só parei quando o meu olhar se focou em Daniel.
- Não precisavas de ter ficado aqui este tempo todo.- murmurei com a voz meio rouca e voltei a fechar os olhos com um suspiro. Eu estava a dizer aquilo mas nem sequer sabia se tinha dormido muito, sentia-me como se nem sequer o tivesse feito.

Estava quase a adormecer para cima dele quando ele acordou a tossir o que me fez abrir muito os olhos e olha-lo. - calma - murmurei voltando a molhar o pano e passa-lo pelas suas bochechas. Encolhi os ombros quando me disse que não precisava de ter ficado ali aquele tempo todo - se não ficar aqui ainda morres - disse e provavelmente estava a ser um bocadinho dramático, mas tinha medo.

Abri os olhos de repente assim que senti de novo aquela coisa fria na minha cara e encolhi-me todo, agarrando-me às mantas. Ou eu estava com febre ou aquilo estava mesmo gelado. Desviei o olhar a algum custo para ele, esforçando-me por não afastar aquilo da minha pele e abanei a cabeça com um sorriso sem vontade.
- Eu já disse que não vou deixar que me substituas.- murmurei com um suspiro, chegando-me mais para perto do seu corpo, por causa do quentinho, claro.

Não consegui deixar de sorrir com o que ele disse, mas logo abanei a cabeça - eu não penso só em mim - disse colocando uma mão na zona do seu pescoço, ele estava a arder, eu já não sabia o que fazer mais. Respirei fundo para não entrar em pânico - não quero que ninguém morra - disse ainda mais baixo que o normal. - Ainda não te sentes melhor? - perguntei com um suspiro.

Olhei para ele com cara de mau e estremeci mal senti a sua mão no meu pescoço, além da diferença de temperatura aquilo provocava coisas em mim, frio, sim era isso.
- Eu ainda não me esqueci que disseste que ias arranjar alguém melhor do que eu.- resmunguei, como uma criança amuada mas rapidamente fiquei mais séria depois.- ninguém vai morrer.- assegurei.- eu já estou quase bom, só estou um bocadinho cansado.- encolhi os ombros, tentando não o preocupar.

-Isso era tão importante que eu já nem me lembrava - ri-me com um revirar de olhos e passei um pano seco pela sua testa para que não ficasse todo molhado, isso também era escusado. - Sim, nota-se que estás quase bom - disse num tom meio amuado, suspirando baixinho.

- Mas lembro-me eu.- disse ainda no meu tom resmungão e fechei os olhos com um suspiro assim que passou um outro pano pela minha testa. Eu tinha e ia ficar bom, não podia ficar na cama durante muito mais tempo, nunca se sabia quando é que era preciso atacar e eu queria estar lá.- eu estou bem.- murmurei de olhos fechados.- só vou ter de fazer o que disseste e mexer-me o menos possível, vai passar.- assegurei.- tem calma.

Arregalei ligeiramente os olhos com o que ele disse. Ele tinha-me dado razão? Olhei-o com um sorriso todo convencido - sim, tens que fazer o que eu disse - disse passando de novo o pano molhado e deixando-o na sua testa, podia ser que assim desse resultados. - estou extra calmo agora.

Revirei os olhos mal o ouvi falar e nem precisei de olhar para ele para saber que estava com aquele seu ar todo convencido. Não deixava de ser sexy mas..credo Bradley, sexy és tu. E é por isso que tens muitas mulheres atrás de ti, sim, concentra-te nelas.
- Não te habitues, é só desta vez.- murmurei, espalmando o pano mais contra a minha cara e fechei os olhos.- podes ir para a minha cama, tenta descansar que também precisas.

Sorri quando disse que era só desta vez - olha que não é bem assim - brinquei abanando logo de seguida a cabeça - não quero - disse molhando também a outra toalha colocando-a no seu peito, assim deixava de olhar para ele e... ele assim podia melhorar. Era isso. Passei as mãos pela minha testa, cá para mim também estava com febre.

Abanei a cabeça, revirando os olhos e estiquei um dedo na sua direcção, espetando-o não sei onde.
- Eu não te vou obedecer sempre donzela, estás com sorte desta vez.- murmurei e encolhi-me todo mal senti frio no meu peito também.- merda.- resmunguei baixinho, tentando chegar às mantas, mas com tanto movimento elas já estavam no fundo da cama.- isso é frio.- queixei-me com um suspiro.

-Vais sim - disse com um sorriso maroto apesar dele não ver. Encolhi-me tal como ele quando praguejou e mordi a parte de dentro da minha bochecha dando-lhe festinhas no cabelo inconscientemente. Oh isto estava muito estranho. - Tem calma, já melhoras.

Revirei os olhos mais uma vez quando ele continuou a insistir, mas já nem disse mais nada. Éramos os dois teimosos, nem valia a pena. Tentei abstrair-me do frio daqueles panos e só o consegui realmente quando senti as suas mãos no meu cabelo. Espera, não era por serem as suas mãos, não, era por serem..festinhas, eu gostava de festinhas.
- Hmhm.- murmurei baixinho e fiquei muito quietinho.

Sorri por ter acalmado e deitei-me no cantinho, a minha perna estava a doer, não era nada de grave, já a tinha estado a ver e estava a sarar perfeitamente, mas ainda doía. Fechei os olhos encostando a minha cabeça à almofada, que apesar de desconfortável era uma almofada, e continuei a dar-lhe festinhas no cabelo mas acabei mesmo por adormecer.

Abri os olhos ao fim de algum tempo, quando deixei de ouvir a sua voz e vi-o deitado muito no cantinho. Mordi a parte de dentro da bochecha, ficando apenas a olhá-lo durante um bocado mas acabei por puxá-lo para que viesse mais para o meio da cama, apesar de ela não ser propriamente grande. Sorri ligeiramente, por ainda estar com a mão no meu cabelo e puxei as mantas só para cima dele. Também precisava de dormir, tinha estado o tempo todo aqui comigo. Cheguei-me mais para a pontinha, para ele ter espaço e fechei os olhos com um suspiro cansado, só esperava ficar melhor agora.

Resmunguei baixinho não sei bem porquê e abri os olhos olhando para Brad que estava com os olhos abertos. Levantei a cabeça olhando-o e peguei nas duas toalhas voltando a molha-las - estás bem? - perguntei com o meu coração aos saltos, não podia ter adormecido.

Eu queria, mas por mais que tentasse não conseguia adormecer. Só queria perceber o porquê, sentia-me tão cansado. Abri os olhos assim que ouvi a voz de Daniel e virei a cara na sua direcção, assentindo.
- Sim, eu estou bem, não te preocupes.- murmurei, sentindo de novo o frio das toalhas na minha pele.- volta a dormir, está tudo bem.- assegurei.- precisas de descansar, já estás acordado há muito tempo.

Fiz uma careta quando me pediu para voltar a dormir e abanei a cabeça. Agora não tinha sono e mesmo que tivesse e tentasse não ia haver qualquer chance de eu conseguir dormir. - Vou buscar-te mais comida e mais água - disse levantando-me -dorme.

Abri os olhos, que entretanto tinha fechado, mal o ouvi dizer que me ia buscar mais comida e assim que o olhei, vi-o já de pé. Eu não tinha fome, aliás, tudo o que menos me apetecia agora era comer.
- Não preciso, eu estou bem assim.- murmurei. Ele estava a ter tanto cuidado comigo que cada vez mais eu me arrependia de ter sido mau com ele no início.- ainda está ali aquele restinho.- que não era quase nada, mas pronto.- não precisas de estar a ter tanto trabalho.- suspirei.

Revirei os olhos quando começou com as suas coisas - não, eu vou buscar, não te mexas, fica assim - disse apontando para ele e olhei para o prato agarrando no mesmo - isto vai diretamente para o lixo, já deve estar tudo nojento - disse saindo da tenda antes que ele começasse novamente a resmungar e fui até à cantina. Estava a pôr o prato no tabuleiro quando vi pacotes de açúcar, agarrei em alguns colocando-os nos bolsos, podia ser preciso para mim visto que não andava a comer nada bem nem a tratar-me da mesma forma. Quando já tinha as coisas voltei para a minha tenda, sentando-me no fim da minha cama com o tabuleiro no meu colo - senta-te.

Revirei os olhos quando ele também os revirou e voltei a revirá-los depois quando começou lá a dar as ordens dele. Ele devia estar a adorar isto de dar ordens e de eu não poder fazer mais nada, a não ser queixar-me. Bufei para o ar, não dizendo mais nada e olhei-o a sair da tenda, fixando depois o meu olhar no tecto enquanto esperava que voltasse. Eu andava com uns pensamentos muito estranhos, ai andava andava, não conseguia parar de pensar naquela vez quando tinha adormecido em cima dele, quando tinha sentidos os..abanei a cabeça, cerrando o maxilar e arregalei os olhos mal ouvi a sua voz. Ele já estava ali? Quando é que tinha chegado? Passei as mãos pela cara, suspirando e sentei-me meio contrariado, ainda a pensar no quão maluco eu estava.
- Espero que saibas que não tenho fome.- resmunguei.

Coloquei-lhe o tabuleiro em cima das pernas e abanei a cabeça - não resmungues, vais comer e pronto - pedi-lhe calmamente e agarrei no garfo -come - mandei fazendo com que o garfo apanhasse alguma coisa daquele arroz intragável, mesmo assim ele comia alguma coisa - abre a boca - olhei-o não conseguindo evitar um sorriso, eu não conseguia ser mau.