Iraque

Semicerrei os olhos quando ele começou de novo com as ordens dele e sentei-me contrariado na cama, já só sentindo depois o tabuleiro sobre as minhas pernas. Revirei os olhos, soltando um suspiro e fiquei a olhar para o garfo.
- Já disse que és um chato, não já? - resmunguei e nem me dei ao trabalho de pegar no garfo, aproveitando que ele estava a pegar nele para apenas me debruçar, abrindo a boca para comer o arroz.

*1 semana*

Tinha estado a cuidar de Brad e felizmente o nosso plano resultou, eu não saí para mas nenhum lugar. Tinha conseguido uma semana sem me ferir. Tinha conseguido uma semana vivo. Abri os olhos, apesar de não estar a dormir, e suspirei - já te disseram quando é que vamos ser chamados? - perguntei colocando as mãos atrás da cabeça

Já tinha passado uma semana desde que tinha sido baleado, já tinha passado uma semana enfiado ali dentro daquela tenda. Acho que nunca antes tinha tido tanta vontade de me mandarem fazer alguma coisa, só para poder sair dali de dentro. Eu odiava estar preso. Mas por outro lado, Daniel tinha ficado sempre comigo e assim, eu tinha-me certificado de que ele estava em segurança. Comigo, ali, ele estava em segurança. Eu tinha prometido a mim mesmo que ia protegê-lo, não me perguntem porquê, mas eu ia. Abri os olhos, virando a cara na sua direcção mal o ouvi falar e abanei a cabeça.
- Não faço a mínima.- murmurei.- mas eles já sabem que estou melhor, podem chamar-nos a qualquer altura.- encolhi ligeiramente os ombros, começando a tentar sentar-me com cuidado. Já me sentia melhor, apesar de ainda estar meio pisado naquela zona, já não era nada demais.

Sentei-me no chão ficando a olhar para Brad quando também se sentou na cama e abanei a cabeça semicerrando o olhar - deita-te - reclamei - podes estar melhor mas não estás bom e eu é que mando em ti enquanto estiveres assim - disse com um dedo esticado na sua direção.

Levantei o olhar para Daniel mal ouvia a sua voz e fiquei a olhar para o seu dedo esticado, revirando os olhos depois. A sorte dele é que ficava sexy com aquele ar todo mandão. É o quê Bradley? Eu, eu é que ficava sexy, sim eu, era eu.
- Não quero estar mais deitado.- resmunguei e levantei-me agarrada à cama, caminhando devagar até ele. Baixei-me, com uma ligeira careta, mas não desisti até me sentar ao seu lado, no chão. Olhei-o, antes que reclamasse e suspirei.- deixa-me ficar aqui.- pedi.- eu não me mexo, mas não quero estar mais deitado.

Revirei os olhos quando não fez o que eu mandei, mas não foi preciso muito para deixar de estar chateado. Assim que ele se levantou da cama eu vi aqueles abdominais.. ele estava todo definido. Sim.. Todo. Bati-me interiormente, mas foi impossível voltar a concentrar-me. Ele a sentar-se, apesar de eu o dever ajudar, apenas fiquei a olhar para a sua barriga que ficou demasiado perto de mim. Eu tinha que me controlar. Fechei os olhos virando a cara na direcção oposta a ele e respirei fundo. Tem calma Daniel, tu estás só a passar uma má fase, isto vai passar. - Está bem, não te mexas - disse-lhe voltando a olha-lo.

Encostei a cabeça à cama, visto que estávamos encostados à mesma e acabei por deixar cair também a cabeça com um pequeno suspiro. Eu estava feito, quando nos chamassem, eu ia cansar-me só de sair da tenda, e isso não podia ser, eu tinha de voltar à ação, precisava de continuar em forma. Levantei a cabeça, ao fim de um bocado, mostrando um sorrisinho quando ele me deixou ficar ali e espetei-lhe um dedo no peito, um ato inconsciente, mas que quando me apercebi, fez com que os calores voltassem. Oh vá lá Bradley, tens de parar com isto. Deixei o meu dedo ficar ali, tentando superar-me a mim próprio e ignorar os calores e olhei-o.
- Ainda não me agradeceste.- semicerrei os olhos.- graças a mim, ficaste uma semana sem fazer nada.- mexi as sobrancelhas. Eu estava a morrer, eu ia morrer, mas eu tinha de conseguir ultrapassar isto.

Olhei para o seu dedo, engolindo em seco e sinceramente, isto já não dava, eu estava a entrar em... eu nem sabia. Parecia que ia explodir, de um modo bom, se bem que nem sabia se isso era possível. Assim que ele falou tentei concentrar-me para o ouvir e assenti ficando a olhar os seus olhos, só depois me apercebendo que era para agradecer - obrigado - disse baixinho.

Baixei o olhar para o meu dedo quando ele também o fez e mordi a parte de dentro da minha bochecha com força, acabando por afastá-lo devagarinho. Será que ele também sentia o mesmo que eu? Será que..cala-te Bradley, tu não sentes nada, isso é falta, sim, já não estás com ela há muito tempo. Suspirei, tentando convencer-me a mim próprio e voltei a concentrar-me nele, juntando as sobrancelhas ao ver o seu estado. Aproximei-me ligeiramente, debruçando-me com cuidado para o olhar com atenção, acabando por ignorar o seu agradecimento forçado.
- Estás bem? - murmurei. Não tinha sido eu, isto eram só coisas da minha cabeça, só podia.

Eu não sabia o que se passava comigo, sentia-me como se estivesse a ficar maluco. Eu sabia que estava no meio de uma guerra e que logo nos meus primeiros tres dias tinha acontecido muita coisa, mas não era isso. Era por causa dele, estas coisas que eu não conseguia.. eu andava a mentirme a mim próprio, isso nao era bom pois nao?
Engoli em seco quando vi Brad inclinar-se para me olhar e abanei a cabeça, eu não estava nada bem e talvez.. não. Senti a minha respiração ficar meio descontrolada no meu peito quase como o início de um ataque de pânico, mas não foi muito bem isso que aconteceu. Assim que voltei a olhar os seus olhos, fui descendo os meus até aos seus lábios sentindo-me arrepiar da cabeça aos pés enquanto me aproximava devagarinho dele, até conseguir tocar com os meus lábios nos seus.

Fiquei a olhar para ele e fiz uma pequena careta ao ver a sua expressão mudar. Será que eu não era o único que estava a ficar maluco? Será que isto era uma doença? Era não era? Só podia ser..Subi o olhar para os seus olhos, arregalando ligeiramente os meus quando o vi começar a afastar-se e foi aí que o meu coração disparou. Comecei a ouvi-lo nos meus ouvidos, tão forte que achei que me ia sair por ali. A minha respiração acelerou, até se tornar ofegante e tal como os seus, os meus olhos desceram até aos seus lábios que estavam cada vez mais e mais próximos.
- O que é que..? - não tive tempo de terminar porque quando dei por mim já só senti os seus lábios nos meus. Inspirei bruscamente, chegando a suster a respiração e arrastei-me até ele, levando as mãos ao seu cabelo para o puxar mais para mim. Não era isto que era suposto acontecer pois não? Era suposto eu afastá-lo não era? Pois, era, dizia eu bem.

Só me apercebi o que estava a fazer quando ele me puxou para mim ele, a sério? Ele tinha-me puxado para ele? Não me tinha afastado todo enojado? Oh meu deus, eu estava a beija-lo e a cada momento sentia que para além do controlo que já tinha tido, o outro tipo de controlo ia acabar também. Levei uma mão ao seu pescoço subindo até ao seu cabelo e apertei-o com os meus dedos. Oh não, não, não. Afastei-me de repente arregalando os olhos e apesar de estar com a boca entreaberta para falar, não consegui dizer nada.

Dei por mim a fechar os olhos a medida que o beijo se intensificava. Isto não podia estar a acontecer, isto não podia estar mesmo a acontecer. Eu estava maluco, só podia, porque é que eu o estava a beijar? Ou melhor, porque é que ele me estava a beijar? Nós..nós éramos homens, e eu gostava de mulheres, gostava não gostava? Quer dizer, até o conhecer eu tinha a certeza que gostava, mas agora..eu já não sabia mais, a única coisa que eu sabia era que aquele beijo me estava a saber bem e que eu só queria mais e mais.
Abri os olhos de repente mal o senti afastar os nossos lábios de um momento para o outro e olhei-o com os olhos muito abertos e a respiração mais do que ofegante. Oh, porque é que ele tinha parado? Bradley! Toquei com os meus dedos trémulos nos meus lábios e senti a minha boca ficar seca de repente. Continuei a olhá-lo e quando os meus olhos deslizaram para os seus lábios de novo eu tive de me levantar de repente, para não o beijar mais uma vez. Eu estava mal, eu estava mesmo muito mal.
- Eu..- engasguei-me, tossicando.- eu vou apanhar ar.- murmurei, saindo da tenda de repente.

Fiquei a olhar para não sei muito bem para onde e só consegui voltar a olha-la quando disse que ia dar uma volta. Abri a boca para falar da ferida mas nem tive coragem. Eu tinha-o beijado. E tinha gostado. Passei as mãos pelo cabelo e abanei a cabeça, eu precisava urgentemente de encontrar a outra rapariga que me tinha puxado e beijado. Podia ser que assim... sim, era a única coisa que eu podia fazer e também a única coisa que explicava a minha necessidade... Ele tinha-me puxado para ele. Tapei a boca com os olhos arregalados, porque é que eu gostava tanto? Levantei-me saindo da tenda, indo na direcção não sei muito bem de onde, eu precisava de apanhar ar ou ainda desmaiava.

Olhei em volta, completamente desorientado e, apesar de não saber onde estava, continuei a andar. Isto não podia ter acontecido. Porque é que ele me tinha beijado? Ou melhor, o que é que me tinha passado pela cabeça para o beijar ainda mais? O grande problema no meio disto tudo era que eu tinha gostado e que por mais que tentasse ignorar, eu só conseguia pensar em como queria mais. Cerrei o maxilar, levando as mãos ao cabelo e soltei um gritinho, olhando em volta depois, para me certificar de que ninguém estava por ali. Não queria que me mandassem para casa por demência, se bem que pouco faltava. Eu não estava bem, de todo. Acabei por me sentar em cima de uma rocha, passando as mãos pela cara e dei por mim a tocar nos meus lábios.

-O que é que estás aqui a fazer? - perguntou um dos meus superiores, levava soldados no jipe.
-Estou..
-Entra, precisamos de ajuda e tu não tens feito nada - olhei para trás de olhos arregalados e abanei a cabeça, mas um dos soldados puxou-me para que entrasse no jipe. Engoli em seco agarrando com força na minha arma, ainda bem que nunca a tirava.
-Vamos explodir o centro d... - acabei por deixar de ouvir a explicação, ficando apenas a olhar para o acampamento à medida que nos afastávamos.

Abri os olhos ao fim de algum tempo, quando me acalmei minimamente e olhei em volta de novo, acabando depois para me levantar. Olhei para o céu, com uma pequena careta e passei as mãos pela cara. Porque é que não estava ninguém ali? Peguei no meu capacete, colocando-o na cabeça e ajeitei a arma nas minhas mãos, começando a caminhar. Chutei uma pedra que se meteu no meu caminho e assim que voltei a levantar a cabeça, vi Karen ao longe.
- Karen! - chamei-a, começando logo a correr na sua direcção.
- O que é que tu queres? - ela perguntou, de braços cruzados ao peito.
- Onde é que está toda a gente? - perguntei com uma sobrancelha levantada, passando uma mão pela minha ferida. Ela revirou os olhos, respirando fundo e endireitou-se.
- Não que me apeteça falar contigo.- revirei os olhos.- mas eles foram chamados.- arregalei os olhos.- vão explodir o centro da cidade.- isso queria dizer que..
- O Daniel? - perguntei de repente, já com o coração aos pulos.
- Não sei Bradley, se não está por aí é porque foi chamado também.- abanei a cabeça, com os olhos cada vez mais abertos.- credo, o que é que foi?
- Ele não podia ter ido sozinho.- murmurei e sem lhe dizer mais nada, virei costas. Eu só pedia para ele ainda estar na tenda.

Cerrei o maxilar quando ouvi uns comentários maldosos devido ao facto de eu estar todo encolhido e sim, estava meio a tremer e a suar por todo o lado, quase que nem conseguia respirar. Nunca devia ter saído da tenda, nunca. - Qual é o plano? - perguntei a um rapaz que estava ao meu lado.
-Destruir o centro da cidade, vai lá estar toda a gente, soldados, habitantes - não, eu não concordava com isto eu queria ir embora. Mordi o lábio com força respirando fundo para tentar controlar-me. Qual era a diferença entre nós e ele? Chamavam aquilo missão de paz, mas nós fazíamos mais estragos que eles.

Abri a tenda de repente, entrando para lá da mesma forma e a pouca esperança que tinha de que Daniel estivesse lá dentro, desvaneceu-se quando não vi ninguém lá dentro. Cerrei o maxilar, sentindo o meu corpo enrijecer e fechei as mãos um punho, respirando fundo. Se eu ao menos não tivesse saídos disparado da tenda, se eu ao menos estivesse ficado ali, ele não tinha ido a lado nenhum. Passei as mãos pela cara, subindo-as até ao cabelo e quando me lembrei de algo, voltei a sair disparado, já só entrando na tenda de Karen, apanhando-a já sem camisa.
- Bradley! - ela guinchou, mas eu já nem lhe liguei nenhuma.
- Veste-te, despacha-te, preciso de ti e de um carro.- disse rápido, mandando-lhe a camisa dela para cima.
- Para que é que tu queres um carro? - ela perguntou com uma careta.
- Para voar.- ironizei, revirando os olhos.- vou ter com eles.

-Saiam, saiam - gritavam enquanto todos saiam à pressa. Olhei em volta e foi quase imediato. Os tiros, as granadas, os gritos das pessoas a correr para se salvarem. Eu estava ali, parado a olhar a volta a ver tudo ao pormenor, deseja ser cego agora. Só via sangue a ser lançado para o ar. Passei a mão que tinha livre pela minha cara para limpar as gotas de suor que me escorriam pela cara e engoli em seco, literalmente, visto que a minha boca estava mais que seca.

- Tu és louco! - Karen continuou a guinchar enquanto me seguia. Revirei os olhos, nem lhe dando ouvidos e subi para o único carro que estava livre. Eu não queria, mas ela tinha chamado os únicos soldados que não tinham sido chamados, para irem comigo.
- Despachem-se! - gritei-lhes, já com as mãos no volante. Karen saltou também para o carro e sentou-se no banco ao lado do meu.
- Ainda não consegui perceber porque é que queres tanto ir ter com eles.- ela disse.- podias ficar em segurança.- cerrei o maxilar já farto de a ouvir e mal os outros entraram, eu arranquei.
- Há coisas que nem eu entendo.- disse ao fim de algum tempo, conduzindo o mais depressa que consegui para lá.

- Mexe-te - um dos soldados que tinha vindo comido no avião deu-me um encontrão forte o suficiente para eu cair no chão, mas consegui equilibrar-me, visto que o meu corpo foi contra uma parede. Fiquei a olha-los, vendo alguns "inimigos" cair, outros meus colegas também a cair e eu.. eu nem conseguir mexer consegui, deixando-me estar encostado a uma das paredes, rezendo para não ser visto por ninguém.

À medida que o carro avançava, o som dos tiros tornava-se cada vez mais nítido e permitia-me dizer que até assustador. Não conseguia parar de imaginar Daniel no meio de tudo aquilo, se bem o conhecia, estava completamente à nora, sem saber o que fazer. Parei o carro de repente mal lá chegámos e nem esperei que os outros saíssem, saindo primeiro que toda a gente.
- Bradley! - ainda ouvi Karen gritar, mas nem me dei ao trabalho de parar, começando a correr enquanto olhava para todos os lados, sempre com a minha arma apontada para todos os lados também.
- Daniel! - gritei, na esperança de que ele me ouvisse, mas com aquela barulheira toda, era impossível, como eu já sabia. Continuei a correr, indo contra alguém de repente e só tive tempo de agarrar a mulher pela camisola, mas mal a olhei, percebi que era apenas uma cidadã meio perdida, que me olhava de olhos arregalados, enquanto proferia coisas que eu não percebia, mas que pelo tom desesperado devia estar a pedir-me que não a matasse. Acabei por largá-la, apontado que fosse para um sítio mais refugiado e assim que olhei para a frente, vi-o encostado a uma parede.- Daniel! - voltei a gritar, já a correr na sua direcção. Só parei quando cheguei ao pé dele e agarrei-lhe na cara, com a respiração ofegante.- estás bem? - perguntei, olhando-o com atenção.

Senti o meu corpo retrair-se quando senti alguém tocar na minha cara, mas ao aperceber que era Brad, parei de me tentar afastar chegando mesmo a encostar-me a ele. Ele era mesmo grande porque a minha cara só lhe dava até ao peito. - eu não gosto disto - murmurei agarrado à minha arma - vão matar pessoas inocentes - engoli em seco ainda a tremer por todos os lados - eu não quero - abanei a cabeça afastando-me até me encostar de novo à parede.

Fiquei a olhar para ele, engolindo em seco ao ver o seu estado e os meus olhos arregalaram-se ligeiramente ao senti-lo encostar-se a mim, mas permiti-me colocar os pensamentos de lado e cheguei mesmo a abraçá-lo.
- Tem calma.- pedi com um suspiro, mordiscando a parte de dentro da minha bochecha mal o senti afastar-se.- já devias saber que é assim.- encolhi ligeiramente os ombros.- mas eu estou aqui.- olhei-o, tocando-lhe no queixo para que também me olhasse.- não vais ter de matar ninguém, ouviste?