Iraque

Levantei uma sobrancelha ficando a olhar para ele, mas ele não pensava? - Eu é que sei? - perguntei - Eu não a conheço, ela simplesmente beijou-me. Eu sei lá porquê - reclamei. Estava todo irritadinho por causa de tudo o que estava a acontecer hoje. Sentia-me cansado e cheio de sono, parecia que não tinha descansado nada durante a noite e depois ele chateava-me e agora isto. A rapariga até era bonita, mas tal como Brad tinha dito, não podia fazer amizades.

Revirei os olhos com a força resmungona como me falou e sentei-me na minha cama enquanto o olhava.
- Vê se acalmas essas hormonas.- foi a minha vez de resmungar.- ninguém tem culpa do que te está a acontecer.- abanei a cabeça.- e vais ter de aprender a controlar-te, as coisas vão ficar piores.- encolhi os ombros.- e essa rapariga deve estar com falta, sabes como é, demasiado tempo aqui.- olhei-o.- podes sempre aproveitar para te divertires de vez em quando.

Olhei-o quando me pediu para acalmar as hormonas e levantei uma sobrancelha. Olha quem fala! Mas sim, eu estava mesmo a ficar descontrolado. Andava todo irritadiço e medroso e sabe-se lá mais o quê. Fiquei a olha-lo enquanto falava e eu tentei, eu tentei mesmo, mas acabei por me rir. 
-Como tu fazes com a sargenta?

Vasculhei pelas minhas coisas até encontrar uma folha de papel e uma caneta e estava a preparar-me para começar a escrever a carta de volta para o meu avô quando o ouvi falar. Nos primeiros segundos pensei que tinha ouvido mal, mas quando levantei o olhar e vi a sua cara de gozo, percebi que ele tinha mesmo dito aquilo. 
- O que é que estás a querer dizer com isso? - resmunguei, merda.- ela é nossa superior, achas mesmo que eu ia ter alguma coisa com ela? - não sabia se aquela era a melhor coisa a fazer, eu não era muito bom a mentir.

Levantei uma sobrancelha quando me mentiu com os dentes todos que tinha na boca e ainda por cima, mal e encolhi os ombros - não, eu não penso nada disso - disse com um sorrizinho, acabando por revirar os olhos. - Deixa-te disso Brad, é óbvio. - disse-lhe sentandoo-me na minha cama, ficando agarrado à minha mala.

Merda, merda, merda. Nós não podíamos ter sido descobertos, eu não podia ter problemas por causa disto, não podia mesmo. Cerrei o maxilar, apertando a caneta na minha mão e olhei-o.
- Se tu contas isto a alguém..- murmurei.- abanando a cabeça.- eu mesmo te ponho em cima de uma bomba.

A minha expressão divertida foi desaparecendo quando ele me começou a ameaçar. E sinceramente, quanto mais ele o fazia, mas me dava vontade de contar, mas não o ia fazer. Levantei-me colocando a minha mala às costas. - Boa sorte com isso - disse enquanto saía da tenda.

Eu estava feito, se isto chegava aos ouvidos de algum superior, eu perdia tudo o que tinha construído até agora. Perdia eu e perdia ela, mas isso, eu não queria saber. Fiquei a olhá-lo, sem saber o que fazer e senti-me ferver por dentro. Como é que ele tinha descoberto, nós tínhamos cuidado, quer dizer..eu tinha cuidado, porque ela..Abanei a cabeça, levantando-me de repente e saí da tenda. Eu tinha de ir falar com ela.

Fui puxado por alguém, isto estava a tornar-se um caso sério, mas ao contrário do que esperava não era a rapariga da outra vez. Senti as batidas do meu coração aumentarem ao perceber que me estavam a levar para um aglomerado que soldados. Não, não, não, eu não queria ir, eu não estava preparado. Engoli em seco tentando mostrar-me menos assustado e olhei para a sargenta. Sim, a miúda do Brad, que nos estava a dar pistas.
-Vamos atacar a zona norte. - Disse ela - têm que estar preparados, pode ser a zona menos protegida, mas está protegida na mesma. Estejam atentos aos vossos auriculares, eu vou dizendo alguma coisa entretanto.

Mais uma vez, ela não estava na tenda. Como sempre, só aparecia quando eu não precisava dela. As mulheres e o seu sentido de oportunidade. 
- Brad! - olhei para trás, vendo Nick a correr na minha direcção e já só o senti agarrar-me no braço e puxar-me para andar com ele.
- O que é que foi? - resmunguei, fazendo-o largar-me.
- Estamos atrasados.- ele murmurou.- fomos todos chamados, vamos atacar a zona norte.- arregalei ligeiramente, colocando-me logo mais direito e quando dei por mim, já estávamos no meio do aglomerado de soldados. E ali estava ela, a dar-nos ordens. Olhou-me, repreendendo-me com o olhar por ter chegado atrasado, mas eu nem liguei, estava furioso por termos sido descobertos. Ajeitei a minha arma nas minhas mãos e olhei em volta, parando o meu olhar em Daniel. Só esperava que ele sobrevivesse a isto.

Olhei para um dos soldados que tinha visto comigo, ele parecia assustadiço no avião, mas agora parecia mais calmo. Eu acho que cada vez estava pior.
-Vão, casa um para o seu carro. - olhei em volta meio desorientado e acabei por encontrar Brad, acabando por virar costas, ia segui-los e assim chegava a algum sítio.

Sinceramente, tudo o que menos me apetecia fazer naquele momento era atacar. Começava a ficar cansado de tanta guerra, mas eu sabia que tinha de ser. Assenti à ordem de Karen e quando olhei em volta, antes de subir para o carro, vi Daniel meio desorientado. Suspirei, abanando a cabeça e fui até ele, agarrando-lhe no braço.
- Tu vens comigo.- murmurei, sem lhe dar tempo de reclamar e puxei-o para subirmos para o carro.

Olhei para o lado quando alguém me agarrou no braço e me puxou. A sério, isto começava a ser hábito. Olhei para Brad quando falou e revirei os olhos tentando largar-me, mas eu não era assim tão forte.
-Porquê? - olhei-o subindo para o carro - eu posso contar o teu segredinho - disse-lhe baixo para que mais ninguém ouvisse e depois afastei-me revirando os olhos.

Subi para o carro, sentando-me e olhei-o enquanto ele se tentava largar. Ele devia ter tirado o dia para me chatear, é que só podia.
- Porque eu estou a dizer.- resmunguei.- ficas aqui e acabou.- acabei por o largar, já que ele estava tão chateadinho e endireitei-me.- e eu sei que não vais contar, não és tão burro a esse ponto.

-Eu podia - disse virando-lhe costas para olhar para a paisagem, que de bonita não tinha nada. Era tudo tão seco.. tão seco quanto o Brad. Ri-me interiormente com a minha comparação, mas deixei logo de o fazer quando senti os jipes pararem fazendo o meu coração voltar a disparar. Eu não ia conseguir. Se não morresse logo, morria da enfermeira. Mas isso também não interessava a ninguém.

- Mas não vais.- disse num tom seco, ficando sempre alerta enquanto o carro avançava. Eu não gostava nada disto, eu sabia que era perigoso, e ainda para mais agora, que tínhamos descoberto que estávamos rodeados de bombas e armadilhas. Eu só esperava que os novatos conseguissem sobreviver. Pelo menos alguns...pelo menos isso. Levantei-me mal o carro parou e saltei para fora do mesmo, olhando para Daniel.- vê se abres os olhos e vês por onde andas.- murmurei, começando a avançar.

Olhei-o, mas na verdade não o olhei, estava a ficar tão nervoso que conseguia sentir o meu coração a bater descompassadamente nos meus ouvidos. Assim que começaram todos a sair eu fiz o mesmo, tendo a certeza que tinha a minha mala presa ao meu fato e ás minhas cosas. Engoli em seco quando Brad falou e apenas assenti agarrando melhor na minha arma indo atrás de alguns. Eu tinha ouvido o plano de estratégia mas mesmo assim não sabia o que fazer

Eu tinha chegado depois, não tinha ouvido metade do que era para fazer, e tudo por causa de Karen e da sua falta de cuidado. Se eu morresse nesta missão, bem que ela podia chorar baba e ranho. Mas isso não ia acontecer, eu era inteligente, estava habituado, bastava segui-los e ia tudo correr bem. Esperava eu. 
- Estejam atentos.- ouvi alguém gritar e olhei em volta, sempre com a arma apontada ao que quer que fosse que pudesse aparecer de repente.

O meu coração estava tão alto que eu mal conseguia ouvir o que os outros diziam. Se não fosse a sargenta, a Karen a falar aos nossos ouvidos, eu estaria completamente perdido. Assim que ao ouvi dizer para o grupo A invadir eu tentei lembrar-me de que grupo era eu, arregalei os olhos engolindo em seco e respirei fundo. 
-O grupo A sou eu - disse só para mim. Mas eu.. Mas eu.. Olhei para aquela casa enorme, que devia equivaler ao Palácio, ou melhor à casa Branca nos Estados Unidos e mordi o lábio. Quase que me engasguei na minha própria saliva quando ela nos desejou boa sorte fazendo-me rir. Ela que venha para o nosso lugar e nos deseje boa sorte.

Como seria de prever a porta estava fechada, mas bastaram apenas dois empurrões para que ela se abrisse. Entrei depois de Nick, assim que Karen disse que o grupo A tinha de invadir, e olhei em volta, assegurando-me de que o caminho estava livre.
- Livre! - gritei, ajeitando o meu auricular e ouvi Karen do outro lado dizer-nos para que avaçassemos e a desejar-nos boa sorte. Pois, sorte, bem que íamos precisar dela. Dar ordens era muito fácil.
- Brad! - ouvi alguém gritar e quando olhei para o lado, já só fui a tempo de disparar, vendo-o cair no chão. Sorte. Agora, até eu tinha o coração aos saltos.

Brad era do meu grupo. Oh não, eu podia morrer em paz, não era com o estúpido a gozar-me. Passei as mãos pelo meu capacete para o colocar bem, visto que parecia um totó com e coloquei a minha arma como me tinham ensinado. Toda a gente dizia que eu ia ser um bom soldado. Eu tinha pose e técnica, mas não era aqui. Era lá, na escola, eu era bom, aqui era tudo menos isso. Tremia por todos os lados. Levantei o olhar com a adrenalina a percorrer o meu corpo e assim que os portões foram abertos olhei para todo o lado. Só tive tempo de gritar por ele quando vi um dos nossos inimigos a ir na direcção dele, mas bom como ele era, matou-o facilmente, fazendo-me abrandar o passo enquanto olhava para o homem morto. Eu não conseguia fazer aquilo.

Passei uma mão pela testa, para limpar o suor que já escorria pela mesma e olhei para trás, só me apercebendo agora que tinha sido Daniel a gritar por mim. Pelo menos isso, ao menos andava mais atento. Afastei o corpo do outro do caminho e endireitei-me, retomando a caminhada. Agora sim, tinha a adrenalina a correr-me nas veias. O que mais custava era começar, depois disso, estava mais do que pronto para os matar a todos.

Levantei a cabeça quando ouvi um dos colegas que tinha vindo comigo no avião a dizer para me despachar e assim o fiz começando a andar atrás de Brad. Ele era um bom lider, não admirava que me gozasse tanto. Olhei para os lados para ver se havia mais inimigos e quando os vi apenas coloquei a minha arma em posição, porque disparar não foi comigo. Eu não conseguia, eu começava a sufocar. Não dava.

Estava com os meus sentidos todos alerta. Apesar de escuro, a lanterna que tínhamos presa ao nosso capacete servia perfeitamente para conseguir ver o caminho que ia aparecendo à nossa frente. Olhei para trás assim que senti um corpo muito perto do meu e quando a minha visão se focou vi que era Daniel. Pelo menos ia conseguir mantê-lo debaixo de olho. Ele estava seguro comigo. Semicerrei os olhos ao ver o seu olhar aterrorizado e quando segui a direcção para onde ele apontava a arma, vi-os aproximarem-se cada vez mais de nós. Abanei a cabeça, de maxilar cerrado e disparei sem pensar duas vezes.

Quando vi a expressão de Brad ao olhar para os inimigos percebi que era para matar, era suposto matar, eu estava ali para isso, mas não consegui. Cheguei mesmo a disparar, mas para o chão, quase para os meus próprios pés. O que é que se passava comigo? Porque é que eu não reagia? Passei a mão livre pela minha cara visto que estava a suar em bica por causa dos nervos e assim que os homens estavam todos mortos voltei a ir atrás de Brad e dos outros.