Iraque

Olhei para a minha ferida e para a mão e abanei a cabeça.
-Não, está melhor, só... - encolhi os ombros - é desconfortável só isso - descansei-o vestindo outra coisa para ir ter com o miúdo, pegando numa camisola minha que estava lavada para lhe levar. - Vens ou não? - perguntei virando-me para Brad.

Assenti com a cabeça depois de ele me ter explicado o que se passava e fui pegar na minha farda, começando a vestir-me.
- Isso vai passar.- murmurei.- já deve estar quase tudo cicatrizado, não? - apertei os botões do meu casaco e olhei-o mesmo a tempo de ouvir a sua pergunta.- vou.- disse enquanto assentia e peguei no meu capacete, abrindo a porta da tenda

-Eu sei - disse mordendo o lábio com o que ele me perguntou a seguir, tentei escapar à sua pergunta e apenas assenti ao seu "vou" começando a andar rápido até à casa onde tínhamos deixado Ben, eu não era nada àquele miúdo e provavelmente só o tinha visto umas quatro vezes, mas eu já gostava dele. E dava para ver que ele também me adorava.

Fiz uma pequena careta quando ele não respondeu à minha pergunta, mas decidi não voltar a perguntar, aquilo devia estar quase bom. Saí atrás dele, olhando em volta para ter a certeza de que ninguém nos via e segui-o até à casa onde tínhamos deixado Ben. Abri a porta, deixando que ele entrasse primeiro e sorri mal o pirralho veio logo abraçar-se a Daniel.

Fui em silêncio o caminho mordiscando a parte de dentro da bochecha nervosamente. Eu sabia que não estava quase a cicatrizar, mas...era normal, por causa do que eu tinha.. ia demorar.. Os meus pensamentos dissiparam-se por completo quando Ben se veio agarrar às minhas pernas. Sorri baixando-me e abracei-o.
-Toma uma prenda - dei-lhe a camisola que até era quentinha e obviamente grande demais para ele.

Encostei-me à porta de madeira e fiquei a olhá-los, sempre com um sorriso. Era incrível a relação que eles já tinham, mal se conheciam, mas era notório como se adoravam.
- E eu a pensar que também gostavas de mim.- disse com uma cara triste fingida.- vou ter de me habituar à ideia de que fui trocado.- levei uma mão à testa, fazendo uma expressão sofrida. Credo, parecia mesmo uma bicha.

Agarrei-o ao colo fazendo uma careta quando o fez, mas não o pousei virando-me depois para Brad fazendo uma careta com a sua expressão.
-Brad - chamei abanando a cabeça - não faças isso - olhei para Ben que se ria - ainda traumatizas a criança. - fui sentar-nos na cama que lá havia - toma - dei-lhe uns doces que tinha encontrado - não os comas todos de uma vez. - olhei para Brad de olhos semicerrados e mandei-lhe um para as mãos.

Abri apenas um olho, ainda com uma das mãos pousadas na testa e ao ver Ben rir-se, até eu acabei por me rir também.
- Até parece que eu não dava uma bicha sexy.- disse com um ar muito sério, mas acabei mesmo por fazer uma careta.- mas eu sou muito macho, que fique assente.- apontei um dedo na direcção dos dois e agarrei num rebuçado assim que Daniel mo mandou. Desembrulhei-o, levando-o à boca e aproximei-me dos dois, passando uma mão pelo cabelo de Ben.- o meu abraço de macho?

Levantei uma sobrancelha com o que ele disse e acabei por levantar a outra quando continuou.
-Muito macho - assenti como se duvidasse e olhei para Ben que estava a comer um dos doces encostado a mim. Pelo menos aquilo ia dar-lhe energia já que não tinha arranjado nada, de noite tinha que arranjar alguma coisa. Levantei o olhar para Brad quando ele falou mas rapidamente o desviei para Ben vendo-o sorrir e saltar do meu colo para ir abraçar Brad.

Revirei os olhos com o seu tom de voz e olhei-o de olhos semicerrados, não dizendo nada. Eu era macho, podia andar aí aos beijos com ele e quase a fazer outras coisas, mas eu era macho, muito macho. Voltei a revirar os olhos, também por causa dos meus pensamentos e por ele estar a duvidar, mas nem tive tempo de pensar mais nada quando Ben se abraçou a mim. Sorri, pegando nele ao colo e abracei-o também, passando uma mão pelo seu cabelo.
- Portaste-te bem?

-Sim, mas ouvi barulhos durante a noite - disse ele baixinho, tão baixo que até tive medo de estar a ouvir mal. Juntei as sobrancelhas indo até eles.
-Ouviste barulhos? - perguntei para saber se tinha percebido bem, ele assentiu com a cabeça encostando a cabeça ao ombro de Brad e eu olhei o mesmo mordendo o interior da bochecha.-Não te preocupes, deve ser só... - olhei-o - alguém a passar. - encolhi os ombros tentando passar por descontraído.

Levantei a cabeça do ombro de Ben assim que o ouvi dizer que tinha ouvido vozes durante a noite e juntei as sobrancelhas, olhando para Daniel ao mesmo tempo que ele olhou para mim também.
- Sim.- murmurei depois de Daniel ter falado.- deve ter sido alguém a passar.- tentei descansá-lo e fui sentá-lo na cama, ajoelhando-me ao seu lado.- eu vou dar-te uma coisa.- murmurei e levei as mãos ao pescoço, tirando de lá um colar que eu usava sempre, mas que não se notava por estar escondido dentro da camisola. Tinha sido o meu avô a dar-me, era o meu amuleto da sorte. Sorri, colocando-o ao pescoço de Ben e passei dois dedos pelo fio do mesmo.- nunca o tires está bem? E sempre que tiveres medo, ele vai proteger-te, eu prometo.

Afastei-me de Ben quando Brad se ajoelhou e fiquei a olha-los, mordendo a parte de dentro da bochecha para não me derreter todo e começar a sorrir como uma menina. Ele usava sempre aquele colar, devia ter alguma importância para ele, mas no entanto estava a dá-lo a Ben. Ele assentiu com a cabeça sorrindo de seguida enquanto o olhava abraçando-se de seguida ao seu pescoço.

Era óbvio que aquele colar era importante para mim, por alguma razão eu nunca o tirava, mas Ben também era importante para mim e naquele momento, a sua segurança e a de Daniel era o que mais importava. Podia ser só um objecto, mas tal como o meu avô, eu acreditava nele e por alguma razão, sentia-me mais seguro quando o trazia comigo, esperava que também resultasse com Ben. Sorri assim que ele se abraçou ao meu pescoço e passei uma mão pelas suas costas, afagando-as.
- Não o percas está bem? - pedi, olhando pelo canto do olho para Daniel, sorrindo.

Sorri quando o vi a olhar para mim e voltei a desviar o olhar para Ben que assentiu ainda abraçado a ele.
-Eu acho que temos que ir - suspirei batendo-me mentalmente por ter que estragar momentos como este. Ben olhou-nos e juntou as sobrancelhas. - nós voltamos à noite - prometi e ele veio ter comigo puxando-me para baixo pela camisola. Baixei-me tal como ele me pedia, fazendo uma careta por causa da dor que aquilo ainda provocava e fiquei a olha-lo.
-Prometes que não te magoas? - perguntou baixinho como se alguém nos conseguisse ouvir. Fiquei a olha-lo sem saber o que dizer, eu não lhe podia simplesmente prometer uma coisa assim - prometes? - voltou a perguntar e eu senti-me obrigado a assentir. Ele sorriu sendo a minha vez de receber um abraço e dei-lhe uma festinha na cabeça fechando os olhos com um suspiro, agora tinha feito mais uma promessa que não sabia se ia ser capaz de cumprir.

Voltei a desviar o olhar para Ben, apertando-o contra mim e foi então que ouvi Daniel dizer que tínhamos de ir embora. Suspirei, levantando-me e aproximei-me dele, vendo Ben seguir-me e agarrar-se a Daniel. Juntei as sobrancelhas ao ouvir a sua pergunta e até eu senti o meu coração apertar-se. Era impressionante a capacidade que as crianças tinham de pressentir as coisas, era como se ele soubesse o que se tinha passado.
- Não te preocupes minorca, eu tomo conta dele.- passei a mão pelo seu nariz, apertando-lhe ligeiramente e depois olhei para Daniel.- vamos?

Ben sorriu indo sentar-se na sua cama improvisada e ficou a olhar-nos. Eu ainda estava meio atordoado com o seu pedido mas assenti com a cabeça- Pisquei-lhe o olho antes de sair e olhei Brad depois disso. Olhei em volta engolindo em seco e assim que tive a certeza que ninguém andava por ali para ficar chocado ou nos interromper agarrei-lhe na mão e encostei-o à parede da casa, puxando-lhe a cabeça, visto que ele era demasiado grande e eu não me ia meter em bicos dos pés, para o beijar.

Olhei para Ben e para o meu colar no seu pescoço antes de sair e depois segui Daniel até ao exterior. Estava prestes a colocar o meu capacete quando o sento agarrar-me e encostar o meu corpo à parede, baixando a minha cabeça até à sua para me poder beijar depois. Arregalei ligeiramente os olhos, nada à espera daquilo vindo dele, mas rapidamente o puxei mais para mim, retirbuindo o melhor que pude àquele beijo. Assim que terminou, encostei a minha testa à sua e acariciei-lhe a bochecha.
- Passa-se alguma coisa?

Levantei o olhar para ele quando o beijo terminou e fechei os olhos abanando a cabeça respirando fundo para continuar controlado, mas acabei por rir afastando-me e começando a andar de novo.
-Desde que entrei para aqui que se passa tudo - olhei-o colocando o meu capacete com um suspiro, queria tudo menos voltar para um campo de batalha, ou ouvir o que eles tinham planeado a seguir.

Juntei as sobrancelhas ao ouvir a sua gargalhada e mesmo quando ele começou a andar, eu estiquei um braço na sua direcção, puxando-o de novo para ao pé de mim. Eu percebia como ele se sentia, apesar de eu achar que conseguia controlar os meus sentimentos melhor do que ele. Encostei-o ao meu peito, não deixando que se afastasse e toquei-lhe no queixo, levantando o seu olhar para mim.
- Estás assim por causa do que o Ben te perguntou? - perguntei baixinho, roçando os meus lábios nos seus.

Fechei os olhos com força quando senti a minha cabeça embater no peito de Brad e agarrei-me ao seu corpo. Senti o seu dedo levantar-me o queixo para o olhar, mas eu não deixei e fechei logo os olhos com força sentindo de novo os seus lábios nos meus. Dei-lhe um beijo leve voltando a enfiar a cabeça no seu peito e apertei-o melhor.
-Mais ou menos - respondi primeiro - talvez - respirei fundo - sim. - acabei por admitir.

Acabei por desistir de lhe tentar levantar o olhar e fiquei apenas abraçado ao seu corpo, retribuindo ao seu beijinho. Suspirei quando finalmente admitiu e abanei a cabeça, apertando-o contra mim.
- Quando é que começas a acreditar em mim? - suspirei.- eu prometi-te que não ias morrer aqui.- abanei a cabeça.- ela só te deve ter perguntado porque estranhou não teres vindo cá.- voltei a tentar fazê-lo olhar-me.- tu salvaste-me, quando é que começas a acreditar que és cqpaz de sobreviver? Hm?

Apesar de fazer tudo para que isso não acontecesse os meus olhos começaram a arder e mais tarde deixei de conseguir ver corretamente. Funguei não deixando que ele me levantasse o olhar e apertei-lhe o casaco que ele tinha cerrando o maxilar para que aquilo não voltasse a acontecer.
-O meu irmão era muito mais forte e não sobreviveu, porque é que eu hei-de? - perguntei - e eu não posso deixar que nada te aconteça por minha culpa.

Baixei o olhar de repente para Daniel assim que o ouvi fungar e juntei as sobrancelhas, sentindo o meu coração apertar-se. Odiava vê-lo assim, odiava saber que ele estava assim por causa disto tudo. Abanei a cabeça à medida que o ouvia e suspirei prolongadamente assim que terminou.
- Porque me tens a mim, porque eu gosto de ti, porque não vou deixar que nada te aconteça.- encostei a minha cabeça à sua.- não são motivos mais do que suficientes? - perguntei num tom mais baixo.- e não me vai acontecer nada, eu consigo proteger-nos, acredita em mim.

Mordi a parte de dentro da bochecha com força levantando o olhar à medida que ele falava e acabei por não tomar atenção a nada do resto quando ele disse que gostava de mim.
-Tu gostas? - perguntei num tom baixo apertando-lhe melhor a camisola acabando por sorrir um bocadinho.