Iraque

Olhei-o quando finalmente levantou o olhar para mim e revirei os olhos com um sorriso face à sua pergunta.
- O que é que te parece? Porque é que achas que me passo só de ver ou imaginar aquela gaja abraçada a ti? - abaneei a cabeça com um suspiro, sentindo-me já a ficar com os calores. Eu estava maluco por estar a dizer aquelas coisas.- mas não era sobre isso que estávamos a falar.- toquei-lhe com um dedo na bochecha.- acreditas em mim ou não?

Ri-me do que ele disse fazendo um sorriso todo convencido logo de seguida.
-Vais sofrer muito depois dessa confissão - disse-lhe enfiando-lhe um dedo no peito e fiquei a olhar para o mesmo fazendo pressão algumas vezes. Ai, aquilo era mesmo duro, era mesmo pena termos que nos apressar, caso contrário.. - Não sei - acabei por responder depois da sua pergunta - talvez só um bocadinho. É um começo.

Revirei os olhos com um sorriso face ao seu sorriso todo convencidinho e depois agarrei-he no dedo que ele me espetava no peito.
- Porquê? - olhei-o.- sou o único que tem confissões a fazer? - perguntei. Se depois disto tudo ele dissesse que não gostava de mim, eu ia enterrar-me no buraco mais fundo de todos os tempos. Suspirei quando disse que acreditava um bocadinho em mim e deixei cair o seu dedo, encolhendo os ombros.- esperava que fosse mais, acho que te dei provas mais do que suficientes de que sou capaz.- sem contar com esta última vez, eu sei que errei.- falei mais baixinho.

Olhei para o meu dedo que estava a ser agora agarrado e semicerrei os olhos ficando a olhar para ele apesar de para Brad começando a sentir-me a ferver. Mordi a parte de dentro do lábio subindo o olhar e levantei as sobrancelhas tentando acalmar as minhas hormonas que andavam a dar comigo em maluco.
-Talvez não - eu hoje não estava muito certo, isso era certo. Olhei a sua mão largar o meu dedo e voltei a espeta-lo no seu peito mas acabei afastar-me um passo com um suspiro - não é uma questão de acreditar ou não nas tuas capacidades Brad - murmurei - tudo pode acontecer aqui, tu não vais ter culpa se uma bala me passar pela cabeça ou se... - engoli em seco - se eu pisar outra bomba outra vez. Eu gosto que me protejas e estou agradecido por isso, mas eu não vou conseguir se alguma coisa te acontecer a ti. - mordi-me todo antes de continuar - porque sim, eu gosto de ti.

Assim que o seu ''talvez não'', o meu coração apertou-se e a vontade que eu tinha de me enterrar aumentou a cada segundo que passava. Engoli em seco, ao senti-lo afastar-se e foi aí que percebi que não devia ter dito nada. Deixei-me estar encostado à parede enquanto o ouvia falar e quando ele estva prestes a terminar e eu prestes a assentir sem dizer mais nada, que eu ouvi o que mais queria. Senti o meu coração disparar, juntamente com os mesmos calores de sempre e os meus olhos arregalaram-se ligeiramente, fazendo-me ficar com a fala presa na garganta. Estiquei uma mão para ele, puxando-o de novo para mim e encostei a minha testa à sua, olhando o seus olhos.
- Gostas? - perguntei baixinho, ainda com o coração numa corrida constante.- gostas mesmo? - perguntei, como se fosse uma criança.

Arregalei os olhos quando ele me puxou e as nossas testas se juntaram fazendo com que eu ficasse mesmo todo coladinho a ele e assenti com a cabeça e os olhos ainda muito abertos. Acabei por sorrir levando uma mão ao seu cabelo dando-lhe uma festa e estiquei-me até lhe beijar os lábios - achas mesmo que beijo as pessoas que não gosto? - perguntei-lhe baixinho esticando-me todo, sem tirar os pés do chão -.- para o beijar de novo. Eu por mim ficava ali o dia todo, mas a música irritante já se fazia ouvir e supostamente quem estava a dormir ainda tinha que se levantar e ir ao centro.

- Não.- respondi à sua pergunta, com um sorriso todo sabichão e encostei a minha cabeça à sua mão assim que senti as suas festinhas no meu cabelo, soltando um suspiro agradado. Baixei o olhar para ele, vendo-o esticar-se todo para chegar aos meus lábios e ri-me baixinho, acabando por o ajudar, baixando ligeiramente a cabeça. Sorri contra os seus lábios, passando as pontinhas dos meus dedos pela sua bochecha e depois beijei-o até ouvir aquele som irritante.- eu vou reformar-me, eu juro que me vou reformar.- resmunguei, revirando os olhos e antes que perdesse a coragem, agarrei-lhe na mão para o puxar dali para fora, tínhamos de ir, como sempre. Abanei a cabeça, enfiando o meu capacete na cabeça e fui resmungando baixinho.

Encolhi os ombros quando disse que se ia reformar, ele estava ali há mais tempo que eu, era mais fácil para ele ir do que para mim que ainda me faltava mais dois anos e meio pela frente, visto que a missão de "paz" era de três anos. Apesar de a única coisa que me apetecia fazer era estar encostado a Brad e dormir, afastei-me dele quando entrámos na zona do acampamento e cruzei os braços ao peito enquanto ouvi as indicações de Karen. Eu bem gostava que ela também fosse lá para o meio para ver se era tão mandona quanto estava a ser agora.

Suspirei assim que o senti afastar-se de mim, mas nem disse nada, seguindo à sua frente até ao acampamento. Juntei-me ao grupo de soldados que se dispunham diante de Karen, como sempre acontecia e fiquei a ouvi-la falar. Eu começava a ficar realmente farta disto, eu sabia que estava ali para orgulhar o meu avô, mas ele sempre me dissera que estando ali ou não, ele ia sempre orgulhar-se. E a verdade era que eu começava a ficar realmente farto, mas por outro lado, soldado que é soldado não abandona a sua pátria. Olhei por cima do ombro, para me assegurar de que Daniel não se tinha afastado de mim e depois voltei a olhar para a frente, não prestando grande atenção ao que ela dizia.

Olhei Brad quando o senti olhar-me e aproximei-me um bocado mais do suposto ficando apenas ligeiramente atrás dele. Tentei prestar atenção ao que Karen dizia, mas em vez disso fiquei apenas a notar o quão alto Brad era, ele com um bebé recém nascido ao colo devia parecia um elefante. Baixei a cabeça mordendo o interior da bochecha para não me rir mas acabei por fazê-lo baixinho levantando apenas o olhar quando algumas pessoas se viraram para mim. Pressionei um lábio no outro e tentei manter uma postura correta enquanto ouvia Karen que agora nos mandava ir na direcção de uma escola. Hoje parecia que não ia acontecer nada de mais.

Mordisquei o interior da minha bochecha assim que senti um corpo muito próximo do meu, e nem foi preciso olhar para saber que era Daniel. Assenti às indicações que Karen dava, como se estivesse realmente a prestar atenção e só olhei finalmente para trás quando ouvi Daniel rir-se. Juntei as sobrancelhas, olhando-o e só quando vi os outros olharem para ele é que fiquei com uma expressão mais séria. Dirigi-lhes um olhar mau, para que parassem de olhar e assim que Karen acabou de falar, eu puxei Daniel para vir comigo.
- De que é que te estavas a rir? - perguntei baixinho.

Quando os outros foram e o Brad me puxou para ir com ele eu tive que conter a minha vontade de rir, apesar de não conseguir, agarrando-me à minha barriga juntamente com a arma.
-Não é nada - disse mordendo o lábio com força para não o voltar a fazer, e tive que respirar fundo para me controlar, sentando-me num dos jipes que estavam à nossa espera. - Oh meu deus - murmurei quando recomecei a rir abanando-me por causa dos calores. A minha cabeça não parava, eu estava a ficar maluquinho.

Juntei ligeiramente as sobrancelhas quando ele não me contou o que se passava, mas também não insisti, subindo para o jipe e sentando-me no mesmo lugar de sempre. Esperei que Daneil também o fizesse, para se deitar ao meu lado e foi então que o ouvi começar a rir-se de um momento para o outro. Arregalei os olhos, olhando para ele de repente e aproximei-me.
- O que é que se passa? - voltei a perguntar.- também me quero rir.

Virei a cara devagarinho para Brad tentando não me rir ainda mais por estar a olhar para ele e passei as mãos pela cara respirando fundo algumas vezes.
-Tu és grande - falei baixinho num tom tremido por ainda estar a rir baixinho. - Todo - fiz gestos com a mão que nem eu sabia o que era e engoli em seco encostando a cabeça ao banco respirando fundo, eu nem queria acreditar que até me tinha que abanar para isto passar - já estou bom - disse tirando um bocado de água que tinha na mala que andava sempre comigo. Levantei o olhar para Brad e mordi-me todo para não recomeçar, virando a cabeça para o lado da janela.

Arregalei ainda mais olhos quando ele me olhou, não me parecia mesmo nada bem. Fiquei a ouvir a sua explicação e fiz uma pequena careta.
- E eu ser grande tem piada? - perguntei sem perceber, mas logo o olhei com atenção.- ou estás a rir-te porque querias ser grande em todo o sítio como ele.- perguntei com um sorrisinho.

Já estava a começar a ficar mais sério quando o ouvi falar e não consegui soltar outra gargalhada baixando a cabeça até a encostar aos meus joelhos.
-Não fales - pedi levantando a cabeça e olhei-o - não fales nestes próximos minutos ou eu vou explodir de tanto me rir - disse pousando uma mão no seu ombro mas logo retirei mordendo-me todo para não recomeçar a rir. Eu bem sabia o que era isto, eu andava com demasiada falta e depois só conseguia pens... em nada. Respirei fundo e olhei a escola ao longe - Já podes falar - saltei para o chão mais sério e agarrei na minha arma ajeitando o capacete engolindo em seco enquanto ouvia os gritos.

Mal terminei de falar, Daniel voltou a contorcer-se todo para não se rir. Arregalei os olhos, ficando calado tal como ele me pedira e depois do jipe parar eu saí, tal como ele, ficando a olhá-lo.
- Eu acho que é melhor não dizer nada.- confessei ainda sem perceber fosse o que fosse e olhei para trás mal ouvi gritos, olhando depois para ele.- tem calma está bem? Só precisamos de os tirar dali, não é nada comparado com o que já passaste.

-Podes falar, desculpa - empurrei-o ligeiramente. - É só que... - olhei-o discretamente desviando logo o olhar - és grande - encolhi os ombros com um pequeno sorriso.
Olhei para a escola que estava parcialmente destruída e engoli em seco olhando para Brad. Agora a minha vontade de rir era nula, mas vontade tinha de chorar - É tudo comparado - murmurei continuando a andar até à zona destruída.

Fiquei a olhá-lo pelo quanto do olho enquanto ele falava e sorri quando disse que eu era grande, dando-lhe um leve empurrão, tal como ele me tinha feito.
- E tu és uma princesinha pequena.- brinquei e depois olhei para a escola, já com uma expressão mais séria.- tem calma.- pedi apenas e comecei a avançar.

Semicerrei os olhos quando ele disse que era uma princesinha pequena e estive para o empurrar com mais força, mas eu sabia que não ia ter força o suficiente para fazer o que queria. Dei um pequeno suspiro indo até aos escombros e olhei para aquilo. Eu estava mesmo a ver crianças e adultos subterrados. Engoli em seco mandando a minha arma para o chão e saltei par cima de uma parede que estava no chão tentando tirar o resto da mesma de cima de um dos miúdos que chorava assustado.

Sorri quando o vi semicerrar-me os olhos, mas acabei por não dizer mais nada, precisávamos os dois de estar concentrados no que fazíamos. Olhei em volta, engolindo em seco ao ver o estado daquela escola e depois baixei o olhar para Daniel, de novo, vendo-o tentar o que restava de uma parede. Estar ali e ver todas aquelas crianças fazia-me lembrar de Ben, inevitavelmente. Coloquei a alça da minha arma em volta do meu corpo, de modo a ficar com as mãos livres e debrucei-me para o ajudar.
- Está tudo bem.- disse num tom calmo.- nós vamos ajudar-te.

Olhei Brad meio irritado por aquelas crianças estarem a passar por aquilo.
-Não está nada tudo bem e ele nem sequer te percebe - disse todo enervadinho fazendo força até a mandar a parede para o outro lado, onde felizmente não havia crianças. Mordi o lábio ao ver o estado do miúdo e baixei-me agarrando-o ao colo - ele vai esvair-se - murmurei mais para mim do que para Brad, sentindo-me quase a morrer só de ver aquele sangue todo, mas não foi por isso que deixei de ir até aos médicos que também estavam a chegar.

Desviei o olhar para Daniel quando me falou da forma que falou, mas nem disse nada, quando ele estava assim nem valia a pena. Ajudei-o a afastar aquela porcaria de cima do miúdo e quando Daniel pegou nele ao colo, eu suspirei com o seu estado. Quem é que era capaz de fazer aquilo a crianças? Ia segui-lo até aos médicos, mas houve um som que me fez parar. Olhei para trás, seguindo o seu rasto e quando dei por mim, estava diante de uma rapariga por volta dos seus cinco anos, com os olhos muitos chorosos. Ela tinha apenas a perna presa, mas isso era o suficiente para não conseguir sair de onde estava.
- Irmão.- ela disse apenas, num inglês muito fraco, apontando para o miúdo que Daniel carregava nos braços. Respirei fundo, proibindo-me de expressar qualquer tipo de emoções e aproximei-me dela, retirando-lhe de cima da perna o tijolo que a esmagava. Ela soltou um gemido de dor, mas logo se fez de forte, olhando para o irmão. Agarrei nela ao colo, acariciando-lhe o seu cabelo negro e fui atrás de Daniel, para que ela percebesse que a ia ajudar.

Assim que passei o miúdo para os médicos não consegui afastar-me ficando a ver o que eles estavam a fazer. O que toda a gente dizia era que não se podia afeiçoar desta maneira, mas eu só de ver uma criança assim afeiçoava-me, era um dos piores qualidades, ou não, que tinha. Olhei para trás vendo Brad com uma menina e juntei as sobrancelhas vendo que não estava em tão mau estado que a criança que tinha levado.
-O que é que se passa? - perguntei vendo-a apontar para o menino e aí percebi virando Brad e a miúda de costas - não vão querer ver. - abanei a cabeça baixando o olhar para o chão, tanto grito estava a dar comigo em doido.

À medida que me aproximava do local onde Daniel estava, mais nítidos se tornavam os gritos daquele menino. Engoli em seco, encostando a cabeça da menina ao meu ombro e pousei uma mão sobre a sua cabeça, tentando que ela não os ouvisse, o que eu duvidava. Olhei para Daniel, que se aproximou, e virei-me de costas.
- Eles são irmãos.- respondi-lhe depois, ouvindo a menina começar a soluçar.- não, não chores.- pedi, começando a ficar aflito. Apertei o seu corpo contra o meu, tendo cuidado com a sua perna ferida.- shhh, ele vai ficar bem.- murmurei baixinho, engolindo em seco enquanto olhava para Daniel.- ele vai ficar bem não vai? - eu sabia que ela não nos percebia.